"EM ESCUTA..."...

27-01-2012

Lançado em 2010, o CD "Atituna", com o nome da própria Tuna que o chancela (Tuna Feminina da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto) é um trabalho discográfico ímpar no panorama tunante feminino português.


Fundada em 2006, esta Tuna teve uma ascensão meteórica no panorama tunante português, que passou pela afirmação inequívoca na componente competitiva (certames), como pela dinâmica impressa ao projecto que, como bem se percebe, foi bem pensado antes de ver a luz do dia.
Quatro anos volvidos e já a tuna editava um trabalho discográfico.

A primeira, e porventura mais sonante, diferença, e característica, no panorama discográfico tunante, é o facto de ser um trabalho sem qualquer tema original.
A segunda é o facto de, mesmo apostando apenas em "covers", a escolha dos temas ter sido muito feliz (mérito, pois, a quem desenhou o repertório).
Os arranjos são muitíssimo bem urdidos, assinados por "experts" nesta área, como o são o Ricardo Cavalera, o Manuel Soares e o Pedro Matos.

Bem gravado (trabalho a cargo do Gonçalo de Sousa - Bryner85), este disco tem algumas "piéces de résistance", que são a própria imagem de marca da Atituna: "Criaturas da Noite" (dos "Entre Aspas"), "É tão bom" (Sérgio Godinho e Jorge Constante Pereira) e "Aconteceu" (Tózé Brito). Destes 3, apenas um merece um ligeiro reparo, apesar de o eleger com o meu preferido: "Aconteceu", em que a solista (por sinal, uma voz lindíssima), logo quando ataca o refrão, comete uma ligeira desafinação que poderia ter sido corrigida em estúdio. Seja como for, não macula o tema, o qual está soberbamente interpretado.


Não há dúvida que a adaptação à "sonoridade de Tuna" surtiu feliz e de grande mestria, onde imperam bons apontamentos vocais e um suporte instrumental equilibrado (mesmo que sem virtuosismos).

 

Um CD que não cansa ouvir e onde o público rapidamente se identifica com os temas, pois a quase totalidade são êxitos que já todos trauteámos.

 

Os "Recuerdos Bolivianos" (de E. Joffre), "Siempre em mi mente (Juan Gabriel) e as "Sete mulheres do Minho" (Zeca Afonso) são, também eles, temas extremamente bem conseguidos, numa interpretação leve, fresca e pejada de dinamismo e alegria.

 

São apenas 7 temas. Dirão, algum, que é pouco para um CD. Eu diria que são mais que bastante, sendo preferível pouco e bom do que querer perfazer 2 dígitos à força, enchendo muitas vezes um CD com temas de 2ª (ou mesmo 3ª) que enfastiam e estragam o bom que havia (algo que sucede na larga maioria dos discos de tunas).


Só não falei de um tema: "Dar de beber à dor" (Alberto Janes), que todos sobejamente conhecemos na voz de Amália Rodrigues. É, quanto a mim, o tema "a mais neste CD". Não que não esteja mal cantado ou tocado (está q.b.), mas o compasso/ritmo em que o mesmo é interpretado retira-lhe a beleza (e aí está o único risco de apostar em "covers": a comparação com o original) e lhe imprime um certo arrastamento, quando poderia ter mantido a cadência alegre e jovial do original.


É o único tema que destoa dos demais, onde a larga maioria dos temas é tão ou mais agradável que os originais que retratam. Daí o enorme mérito do risco corrido e, claro está, da aposta ganha no final.

 

No cômputo geral, é sem dúvida um CD de eleição, um "Vintage" que deixa água na boca e, ao mesmo tempo, prova que a aposta em "covers" faz todo o sentido, quando se trabalha com arte e engenho. Um CD que prima por arranjos vocais de grande qualidade, e um instrumental equilibrado, e que o consegue fazer sem complicar e sem "barrocos", apostando numa simplicidade eficaz, contudo acima, muito acima, da média.

 

Para quem gosta de boa música, é, sem dúvida, de constar da playlist do vosso carro e a merecer espaço destacado na vossa audioteca lá de casa.