O actual figurino do certame competitivo

03-03-2009

O actual figurino do certame competitivo

Descentrando agora do próprio PortugalTunas – e terminadas as festividades do seu aniversário mas que não o trabalho que prossegue – o presente Editorial vai novamente ao encontro do sentir e viver da Tuna nacional nos dias de hoje, quais os seus anseios, caminhos, posicionamento, etc.



Tão mais se justifica por força da reentrada da época tunante nacional, que como sempre se reveste de um quase 95% de certames competitivos e os restantes eventos de vária índole e género que não o competitivo, ou seja, nada de novo se afigura a prazo neste apartado. Bom, poder-se-ia dizer – e já que o lançar a seu tempo do tal apelo para um ano sabático quanto a competição tunante caiu em saco roto, restando saber se mais tarde não iremos todos procurar cozer o fundo do mesmo saco daqui a uns tempos – que já que não se podem vencer juntemo-nos a eles. E este juntar não se resume a uma mera soma de partes mas antes a um mais que desejável, pertinente e urgente repensar daquilo que é o certame competitivo e seu formato prático – que não é igual ao teoricamente difundido pelas esmagadoras maiorias das organizações que promovem dois dias de certame mas que ficam praticamente reféns, por opção ou falta dela, de 3 ou 4 horas de palco e pouco ou nada mais, restando neste particular ainda alguns "irredutíveis gauleses" que, ainda e sempre, resistem.



O actual formato dos certames pode ser, quer por força das actuais circunstâncias económicas a nível geral, quer por força de um cada vez menos aparente e cada vez mais real entrincheirar em palco – quando não em ciclorama e outros quejandos – alvo de uma remodelação mais profunda que não se resumirá à forma e critério avaliativo mas antes ao próprio conceito que, como sabemos, é “importado” de Espanha. Cada vez mais se assiste ao passar de certames de duas noites para apenas de uma - por força da crise mas porventura por força também de uma maior diversidade face ao modelo tido como “habitual” – onde se promove por consequência mais actividade tunante dentro da lógica de certame de outras actividades como sendo a Serenata – essa “parente pobre” – ou a simples e saudável noção de convívio entre participantes e público em geral. Pode ser uma consequência paradoxalmente positiva da actual crise económica mas que de facto, não deixa de ser um facto por si só positivo. A redução dos elencos de Tunas participantes é um facto hoje e face ao passado, bem como a cada vez menor participação de Tunas estrangeiras – onde várias outras razões subsidiam esta noção mormente a económica ser aqui também cada vez mais relevante. Outro facto prende-se com a deflação de alguns certames face à sala/salas que habitualmente acolhem os seus certames e que actualmente e em alguns casos passam para salas mais humildes ou de menor capacidade, logo, custos mais controlados.



Todos estes factores aliados ou por si só podem indicar uma pequena transformação da noção clássica de certame de Tunas, sendo que em certos aspectos são consequências inevitáveis e noutros, opções mais ou menos estudadas. Certo é que cada vez mais os eventos competitivos de carácter periódico – anual no caso – apresentam cada vez mais constrangimentos organizativos que são reais, sintomáticos e perfeitamente detectáveis. A somar a este cenário por si só indiciador de algumas mudanças no figurino temos ainda a tal noção clássica de certame que na prática se vai resumindo “neo-classicamente” à actuação de palco e pouco ou mesmo nada mais.



Será pois pertinente pensar-se no actual figurino dos eventos tunantes, por duas ordens de razão: comportarão os mesmos a noção clássica de certame de tunas, por um lado, e por outro, não será mais eficaz, coerente e honesto - para lá de mais barato - até resumir o evento àquilo que realmente cada uma das organizações pretende e acaba por apresentar de facto, na maioria dos casos, um espectáculo de Tunas ponto período, centrado numa única soirée a iniciar-se pelas 21h.00 e a terminar às N horas da manhã?



Fica a reflexão nomeadamente quanto ao que é o figurino clássico de um certame de Tunas e aquilo que é a nouvelle vague do entendimento de um dito certame competitivo. Mais que isso, deveria servir sim e antes o certame competitivo para aquilo que foi criado na sua essência: promover o fenómeno de várias formas e maneiras e não somente de uma, o palco. Afinal, a tal proposta de ano sabático não teve deferimento geral apenas porque se cortava às premiações e não ao que interessa de facto: havia à mesma música, actuações, palco, festa, etc etc etc e faltariam apenas as “benditas” estatuetas. Aliás, aplaudiria de pé que alguma organização, fosse a que fosse, chegada ao final da soirée “olímpica” tivesse-“os” no sítio devido e pura e simplesmente dissesse que não há estátuas para ninguém: bastaria contemplar – como alguns já o fazem – tal em regulamento e depois somar-lhe o acto de “coragem supremo”, não as dar a ninguém. É um bocado como os casamentos actualmente: vai-se para tudo - comer, beber, conviver, mostrar a toilette e por aí fora mesmo que se lá chegue depois do "sim" dos noivos...



Devemos pensar nisto, todos, cada um de nós. Uns minutinhos que sejam.

Entretanto, benvindos sejam, pois, aos “jogos olímpicos tunantes “ de Primavera/Verão 2009!