À Conversa com....a Bruna - Tuna Universitária da Figueira da Foz

01-04-2014

À Conversa com....a Bruna - Tuna Universitária da Figueira da Foz

PortugalTunas: Comecemos de forma algo leve: Olhando para o vosso vasto e honroso palmarés constata-se que têm tido muito sucesso no estrangeiro, Espanha e Holanda, por exemplo. Vocês são uma espécie de "Englisman In New York" - ou seja, uns estrangeiros porreiros - ou é mera coincidência?

 

É uma questão interessante, a qual contém várias sub-questões dentro da mesma. Desde logo entendemos que o sucesso é algo muito relativo, especialmente quando falamos no sucesso de uma Tuna, o qual se pode medir a vários níveis. No entanto vamos ser objectivos, e tendo em conta a afirmação em torno do palmarés, é óbvio que nos sentimos satisfeitos e realizados sempre que consideram que a performance musical determina a conquista de um prémio. Mais realizados nos sentimos quando olhamos para o passado e vemos que essa consideração supra referida foi conquistada em diferentes palcos, perante diferentes públicos e culturas, ou seja, foi transversal. Nesse sentido podemos responder que esse, ainda que relativo sucesso, não é para nós coincidência, é sim resultado de uma coerência na postura. Explicando, e se nos permitem usando a vossa própria analogia com a música do Sting, esta diz-nos que …” Gentileza, Sobriedade são raras nessa sociedade…Seja você mesmo, não importa o que dizem…”. Ou seja, o que pretendemos dizer é que fundamentalmente tentamos manter idêntica postura, seja em que palco for, seja em que País for, sendo cavalheiros com quem nos recebe, usando de uma sobriedade que porventura advirá da média de idades dos actuais membros da tuna, o que de certa forma se reflecte na música que tocamos, a qual por vezes recebe uma distinção e por outras vezes não, tudo normal nesse sentido. Entendemos sobretudo, é que esta coerência na postura é que nos permitiu ao longo dos anos ir participando nos mais variados Certames além-fronteiras, trocando contactos e experiências com Tunas estrangeiras, os quais na sua maioria os fazemos lá fora. Por outro lado tendo em conta alguma experiência que fomos adquirindo em participações em Certames de Tunas no estrangeiro, isso permite-nos afirmar que a Tuna Portuguesa no geral é largamente apreciada pelas suas congéneres, seja no México, Holanda, Espanha, imagem essa da qual também obviamente vamos beneficiando nos diversos Certames por onde vamos passando.

 

 

PTunas: Continuando num registo leve: Podem dizer - finalmente - o porquê do nome Bruna? Se puderem, claro.....:)

 

Bruna, nome de mulher a quem cantamos…(risos). Quando em 1993, dois antigos membros da actual Tuna tiveram a ideia de formar uma Tuna na extinta Universidade Internacional da Figueira da Foz, não tinham eles ideia concreta de um nome. Após alguns dias de recrutamento, rapidamente se fundou a Tuna com cerca de 20 elementos. O que podemos dizer é que a discussão em torno do nome da Tuna foi de tal forma acesa, que o que se sabe hoje da origem do nome Bruna deriva da simples questão fonética de rimar com Tuna, e mais qualquer coisa que em concreto se foi perdendo com o tempo... (risos). Sejamos honestos, o nome Bruna enquanto Tuna diz-nos muito como é óbvio, porventura hoje a escolha seria mais racional (risos).

 

PTunas: Tornando o tom mais sério que não grave: Hoje em dia como se vê a Tuna Universitária da Figueira da Foz no contexto da sua cidade - agora que não há Academia? Como tem decorrido a adaptabilidade a uma nova realidade?

 

Respondendo à primeira questão, a continuidade da Tuna na cidade, ou no contexto da cidade, foi de certa forma fácil até aqui. O grupo que resistiu ao fecho da Universidade Internacional decidiu continuar com a Tuna, adoptando outra denominação, já que não fazia sentido continuar como Tuna da Universidade Internacional da Figueira da Foz, em tudo o mais tratou-se de uma transição/adaptação bastante tranquila. Pese embora o encerramento da Universidade, a população em geral que conhecia a Tuna continua a aderir aos eventos por si organizados ou em eventos nos quais a Tuna participa, nomeadamente o FITUFF ou por exemplo a participação nas festas de São João, onde há 11 anos consecutivos interpretamos alguns temas no desfile de marchas populares que decorre no Coliseu Figueirense. Obviamente que surgiu uma ou outra contrariedade, nomeadamente a inexistência de um espaço próprio que pudesse funcionar como Sede e local de ensaios, felizmente que neste último aspecto temos tido a felicidade de contar a fabulosa ajuda de uma colectividade local, o União de Buarcos, que nos cede as suas instalações para podermos realizar os nossos ensaios. Esse será um dos projectos da tuna, que é poder usufruir de um espaço próprio, que funcione como Sede e local de ensaios para que de uma forma mais sustentada possa desenvolver o seu trabalho, abrindo ainda mais as suas portas à cidade. Por outro lado, a ausência da Academia veio criar um vazio, porventura ainda maior na própria cidade. Apesar de nos últimos anos de existência serem muito poucos os alunos que ingressaram na Universidade Internacional, mesmo assim vivia-se e desenvolvia-se alguma actividade académica na Figueira da Foz. Para nós enquanto tuna, era uma estrutura que ainda nos disponibilizava algum apoio, nomeadamente instalações para ensaios, e pontualmente um ou outro apoio para a realização do nosso festival, ou para alguma deslocação. Concluindo, podemos dizer que a adaptabilidade a uma nova realidade não foi dolorosa, até foi simples, contudo essa adaptação terá que se redesenhar com novos objectivos, para que a Tuna na Figueira continue a ser uma realidade.

 

PTunas: O FITUFF tem sido uma âncora vossa no seio da comunidade tuneril nacional. É importante manter a mesma bem ancorada? Que dificuldades se vos deparam na sua concretização?

 

O actual FITUFF-Festival Internacional de Tunas Universitárias da Figueira da Foz nasceu em 2004, como resultado de um crescimento que a Tuna teve durante os anos de 2003 e 2004. Após um período de cerca de dois anos nos quais a Tuna se manteve praticamente inactiva, houve uma vontade conjunta entre várias gerações de a voltar a reactivar e o FITUFF surgiu como complemento dessa vontade, e também, sejamos claros, como resultado de um crescimento a nível nacional deste tipo de eventos o qual quisemos acompanhar. Ao longo dos anos o crescimento do festival é evidente a nível organizativo. Podemos dizer que realizamos a 1ª edição num pequeno auditório de 180 lugares e hoje realizamos o FITUFF no Casino Figueira com sucessivas lotações esgotadas de cerca de 500 espectadores. Obviamente que com o decorrer de várias edições do Certame, o empenho que se coloca em cada edição tende sempre a ser maior, no sentido de fazer mais e melhor, de oferecer mais e melhores condições a quem nos visita, mas também no sentido de oferecer ao público um espectáculo de qualidade, caso contrário, sem este tipo de pensamento fecha-se a porta do Certame. Objectivamente e respondendo em concreto às questões, pensamos que o FITUFF em primeiro lugar é uma âncora para a nossa existência na própria cidade. Como anteriormente se referiu, com a ausência da Academia o FITUFF mostra-se para nós enquanto Tuna, uma das principais janelas de visionamento para a população da Figueira da Foz, o que será fácil de compreender. Enquanto âncora nossa no seio da comunidade tuneril em Portugal, não podemos deixar de dizer que em parte é verdade, mas sobretudo com uma ideia que para nós é positiva, que é a de demonstrar a essa mesma comunidade que não é só nas cidades que albergam grandes Academias, que se realizam bons Certames de Tunas. Um bom Certame de Tunas e fugindo um pouco à questão, baseia-se em três premissas fundamentais: Qualidade Logística (alojamento, refeições, etc); Qualidade da Sala de Espectáculos e por último mas porventura a mais importante, a Qualidade Humana de quem organiza.

 

Reunindo estes três requisitos, de certeza que se consegue realizar um bom Certame, e olhando para o passado podemo-nos orgulhar do que até aqui fizemos, repetindo a ideia de que, se o projecto do FITUFF continuar, e esperamos que sim, terá que ser sempre com o objectivo de fazer mais e melhor e que mais Tunas de diferentes Academias nos possam privilegiar com a sua presença. Como principais dificuldades, pensamos que a mais onerosa é a de demonstrar a determinados sectores da Sociedade que vale a pena apostar na Cultura, e que as Tunas fazem parte da Cultura Portuguesa, quer queiram quer não.

 

PTunas: Como vê a Bruna todo o actual cenário tuneril em Portugal? Uma perspectiva de 360º graus mostra-vos o quê?

 

Fundamentalmente e em especial nos últimos 5 ou 6 anos assistimos a uma consolidação do fenómeno no que concerne ao nascimento de novos agrupamentos. A não proliferação de ensino superior e em muitos casos o encerramento de unidades de ensino aliados a um decréscimo brutal de estudantes de ensino superior explicam essa consolidação. Essa consolidação também é visível no aumento da média de idades dos membros das diversas Tunas por esse País fora. Na sua maioria, as Tunas ainda conseguem fazer uma renovação dos seus quadros, ainda que não de forma global. Facilmente se encontram tunos com 10, 15, 20 anos de tuna, o que aproxima em alguns casos a Tuna Portuguesa do fenómeno que sucede em Espanha, onde a quase inexistente renovação dos quadros das Tunas, levou a um aumento exponencial da média de idades dos que as integram, e em muitos casos originou a própria inactividade da Tuna. Hoje em dia em Portugal, e salvo algumas excepções que nos mostram casos de renovação total dos seus membros, facilmente encontramos as mesmas caras, e são essas que continuam a determinar o trajecto da tuna. Quanto a este ponto, e com uma visão global, pensamos que ainda estamos longe do fenómeno Espanhol, contudo e pontualmente esse fenómeno é claramente visível. Esta consolidação revela-se também na organização de Certames de Tunas, competitivos ou não. Reflexo pensamos nós de uma menor disponibilidade para a Tuna que advém das mais variadas razões (pessoais, profissionais etc.), assistimos a Certames que já não se realizam, e por outro lado, porventura fruto da menor disponibilidade financeira, os Certames organizados por entidades que não Tunas, praticamente desapareceram da agenda. Porventura poderemos estar na iminência de que no futuro se reestruture a forma de pensar a Tuna e no porquê de estar na Tuna, ou seja, que há mais vida para além do Certame. Sejamos claros no entanto quanto a este ponto, a Tuna não deixará de organizar e participar em Certames para ir directamente para a Rua ou para a Praça tocar e apenas ser essa a sua actividade. O que entendemos e há vários exemplos que nos são dados por algumas Tunas (ex, TUIST com a Orquestra do Norte), que demonstram que se a Tuna é essencialmente um fenómeno musical porque não desenvolver parcerias com outro tipo de agrupamentos musicais e criar outro tipo de espectáculos.

 

Por último, e aquilo que porventura distingue a Tuna Portuguesa das demais é a sua facilidade em desenvolver projectos musicais de qualidade. Como dissemos anteriormente a Tuna é Cultura, e é de louvar de facto o esforço desenvolvido no sentido de demonstrar à Sociedade em geral, que as Tunas têm uma preocupação em apresentar bons espectáculos, com diferentes sonoridades e em constante evolução. Pensamos que este último aspecto é que nos diferencia das congéneres estrangeiras, e que esse será sempre o caminho a seguir. O resultado é assistirmos por esse País fora, a salas de espectáculos esgotadas para assistir a Certames de Tunas contrariamente ao que acontece lá fora.

 

PTunas: Sem atirar búzios ou cartas, que futuro o tempo vos reserva? O caminho trilhado garante-vos largos anos de vida, certamente. Como se vêm nos próximos tempos?

 

O caminho trilhado ao longo de 21 anos trouxe-nos até aqui, o que parecia impossível em 2000, ou por exemplo em 2009 com o encerramento da Universidade Internacional da Figueira da Foz. Quanto ao futuro, sejamos honestos, não se afigura fácil fruto da ausência de uma Academia que nos permita ir integrando um ou outro elemento anualmente, de facto a renovação é praticamente inexistente. A Tuna actualmente desenvolve a sua actividade com cerca de 25 elementos, alguns dos quais com 21 anos de casa, como tal a disponibilidade e a vontade com que se encara a Tuna e os desafios com se confronta nem sempre são iguais. Nesse sentido e à semelhança do que temos feito nos últimos anos, os desafios a que nos propomos têm que ser sempre de curto prazo, não podemos perspectivar o que será a Tuna para o ano, mas sim o que será a Tuna no próximo ensaio. Objectivamente temos perfeita consciência das nossas limitações e nesse sentido temos de encarar este projecto de uma forma muito racional, ou seja, enquanto nos for possível assumir um compromisso de publicamente nos apresentarmos como Tuna propriamente dita, assim faremos. De igual forma também temos consciência derivada dos obstáculos supra referidos, que no momento em que a Tuna não consiga assumir o compromisso de se apresentar enquanto tal, haverá a tranquilidade necessária para parar, sem dramas, ainda que muito nos possa custar. Ainda assim e não sendo incoerentes com o que anteriormente dissemos, temos que assumir objectivos, ou pelo menos tentar com os que actualmente integram este projecto, e que passam pelo desejo de podermos usufruir de uma Sede própria, onde e como já referimos, possamos desenvolver o nosso trabalho, expor a nossa história de uma forma digna e que seja um local comum para todos aqueles que queiram integrar uma Tuna, sejam eles estudantes universitários, ex-estudantes universitários e mesmo para aqueles que fazendo parte de outras Tunas, queiram fazer parte da Tuna universitária da Figueira da Foz, não vemos qualquer inconveniente nesse sentido, já que a partir do momento em que nos assumimos como Tuna Universitária, de forma inerente abrimos as portas a todos aqueles que a queiram integrar, deixando de estar confinados ao espaço da extinta Universidade. No fundo, projectos e ideias existem, só que conforme supra referimos temos que gerir muito bem a idiossincrasia dos diversos membros da Tuna, e de forma muito racional continuarmos a desenvolver a nossa actividade, com o sincero desejo que seja por muitos e bons anos.

 

Resta-nos agradecer ao Portugaltunas a oportunidade de desenvolvermos um pouco a história da nossa Tuna, abordando paralelamente outros assuntos de interesse do fenómeno Tuneril, desejando as maiores felicidades para o vosso projecto, que desde 2003 muito contribuiu para o desenvolvimento e dignificação da Tuna Portuguesa.

 

Bruna-Tuna Universitária da Figueira da Foz