Cada vez menos Tunos conhecem a simbologia da Tuna, sua tradição e significado.
05-09-2024
Este texto é datado de 2005 e é uma reposição, já que constou noutros foruns tunantes, quer portugueses quer espanhois.
O Maestro Moran escreveu o seguinte e numa tradução livre ( Artigo publicado na Revista Aventuna Nº 66, 1998, exemplar monográfico entitulado “La Tuna en el 2000”). Fica a mesma pela sua real pertinência e acima de tudo, actualidade face ao desnorte patente...
"Estas linhas trazem somente um desordenado esboço de alguns males que, no meu entender, afectam de forma desigual demasiadas Tunas actualmente. O assunto merecia um estudo profundo ( …)
1. Por muito que estejamos todos no mesmo magistério, cada pessoa é distinta e não é possível nem recomendável que todos sejamos cópias de um mesmo molde. Tentar a uniformidade seria cortar as asas a uma Tradição que é caracterizada pela espontaneidade. Mas também é indesejável que cada um, à luz de tal, faça o que lhe dê na gana, ignorando o caminho percorrido, de séculos. Quando se decide entrar para uma Tuna, as referências mais apelativas são o traje, o alcool e as festas. A Tuna é bastante mais que isso. (…)
A Tuna é um caminho a percorrer. Os veteranos devem guiar o caloiro dando bom exemplo, ensinado o respeito e o cumprimento da Tradição de que vão a formar parte, o companheirismo, etc. Não se trata de que todos sejam estudiosos da Tuna, antes que tenham suficientes elementos de juízo para saber onde se meteram, decidindo continuar ou não e poder entregar um digno testemunho a futuros componentes. Alguns querem chegar a veteranos para somente fazerem o que lhes apetece.O caloiro acredita no que contam, faz dele também isso mesmo e assimila os comportamentos que vê à sua volta quase como dogma de fé.
Quando chega a tuno não aceita que algum iluminado lhe diga coisa distinta, porque o Tuno sabe tudo...
2. - Cada vez menos Tunos conhecem a simbologia da Tuna, sua tradição e significado. Outras vezes a algo que se “ouviu” acrescenta-se um ponto, (…) etc. As Tunas que cumprem os rituais de Tuna contam-se pelos dedos…de uma orelha. Perdeu-se o fio condutor da Tradição, “apanhando-se” só o que dá jeito.(…)
Nos festivais, algumas tunas padecem de uma espécie de endogamia, fechadas ao resto (…) Aqui estão também as rivalidades e invejas tontas.São comuns “façanhas” tais como esvaziar extintores em hoteis, faltar ao respeito às raparigas e oferecer na rua um penoso espectáculo; As pessoas não distinguem e a tuna que deixe o seu rasto condena a que vem a seguir. Claro que há “tunos” que se riem destas façanhas..
Nega-se a natureza da tuna a formações não universitárias; Nega-se as femininas porque são mulheres. E também as de Colégios Mayores, Universitárias e masculinas, sem saber que a ligação de uma tuna a uma faculdade é recente. (…) Instados a exigir, sejamos coerentes: Se quase é delito não levar a Capa para palco, tambem deveria sê-lo interpretar cantares distantes do repertório estudantil.
3.- Resulta paradoxal falar de medidas correctoras numa tradição espontânea por natureza, mas chegados a este ponto, permitam-me propôr as seguintes:
• Dar exemplo, colectiva e individualmente, irradiando outra imagem, outros comportamentos.
• Nos festivais, marcar limites precisos em coisas como a vestimenta, comportamento e repertório, penalizando o distante da tradição e pontuando a recuperação de instrumentos, costumes e cantares. E que, chegado o momento, se aplique.
• Ler livros sobre a Tuna, visionar e comentar videos de festivais. É imprescindível que cada Tuna tenha um arquivo.
• Tomar consciência da responsabilidade que é levar um traje, não só individualmente mas também para o colectivo da Tuna.
• Recuperar canções populares de serenata. (…) Aceitar canções de outras Tunas; não se é menos tuna por isso.
• Cada Tuna poderia elaborar um código interno de conduta de cumprimento obrigatório.”